quarta-feira, 31 de julho de 2013

Plasticidade neuronal - a importância do estímulo cognitivo


O texto a seguir constitui-se de partes de uma entrevista realizada pelo Dr.
Dráuzio Varella com o Dr. Cláudio Guimarães dos Santos, médico,
neurocientista da Universidade Federal de São Paulo, trabalha na
reabilitação de pacientes com disfunções cognitivas.
Entrevista acessível no endereço:  http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/plasticidade-neuronal/
Data: 02/08/2012

Plasticidade neuronal

Os neurônios são células características do sistema nervoso central que
possuem a capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem
estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio organismo. Essas
conexões são responsáveis por tudo o que somos. Por nossa personalidade,
modo de agir, pela forma que nosso corpo vai adquirindo no transcorrer da
vida.

Em linhas gerais, o processo se resume no seguinte. Uma vez estimulados,
os neurônios geram impulsos de natureza elétrica e liberam íons e
substâncias químicas que lançadas nas sinapses (espaços vazios entre um
neurônio e outro) estabelecem ligações entre eles. A cada novo estímulo, a
rede de neurônios se recompõe e reorganiza, o que possibilita uma
diversidade enorme de respostas.
Plasticidade neuronal é o nome dado a essa capacidade que os neurônios
têm de formar novas conexões a cada momento. Por isso, crianças que
sofreram acidentes, às vezes gravíssimos, com perda de massa encefálica,
déficits motores, visuais, de fala e audição, vão se recuperando
gradativamente e podem chegar à idade adulta sem sequelas, iguais às
crianças que nenhum dano sofreram.

CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA NERVOSO
Drauzio – Como funciona a plasticidade neuronal?
Cláudio Guimarães dos Santos – Hoje sabemos que o sistema nervoso
humano e de outros mamíferos é extremamente flexível e plástico. Há cerca
de 20 ou 30 anos, a ideia era que fosse bastante estático, não só quando
em condições normais de funcionamento, mas também quando alterado por
alguma lesão.
Não sabíamos muito bem, por exemplo, como o sistema nervoso respondia
a situações de aprendizagem, como se modificava – se é que se modificava
– como se  transformava. Evidentemente, sabíamos que as pessoas
mudavam ao longo do tempo, mas não tínhamos ideia de como a estrutura
nervosa, neuronal, respondia a essas modificações. Acreditava-se que a
sequela era a consequência inevitável de uma lesão neurológica, pois a área danificada estaria perdida para sempre e a isso corresponderia um déficit
funcional mais ou menos estático e irreversível.
Essa imagem mudou muito nos últimos anos. Em primeiro lugar, por causa
das pesquisas de reabilitação realizadas em pacientes com disfunções
cognitivas. Em segundo lugar, pelo advento de novas técnicas de
neuroimagem funcional que permitiram o estudo da substância encefálica
durante a realização das tarefas cognitivas.
Drauzio – Que avanços o conhecimento da neuroplasticidade trouxe
para a reabilitação dos pacientes?
Cláudio Guimarães dos Santos – A neuroplasticidade lançou luzes sobre
a reabilitação. Trouxe esperança muito grande para os pacientes com lesões
encefálicas. Sabemos que eles podem ser reabilitados dentro de certos
limites, porque são dotados de flexibilidade, de plasticidade cerebral e que
existem técnicas mais eficientes do que outras para realizar esse trabalho.
Durante muito tempo, a idéia de reabilitação foi desacreditada. O
conhecimento da neurobiologia da  flexibilidade cerebral mostrou que as
pessoas podem efetivamente ser reabilitadas. Hoje se pensa em reabilitação
não só de doenças recorrentes de lesões agudas, de derrames, mas de
lesões crônicas como as que ocorrem nas demências ou na doença de
Alzheimer. A credibilidade na reabilitação passou a ser maior quando se
mostrou que era possível o sistema nervoso modificar-se e responder aos
estímulos.
COGNIÇÃO E TAREFAS COGNITIVAS
Drauzio – O que você entende por cognição e tarefas cognitivas?
Cláudio Guimarães dos Santos – Costumo usar o termo cognição como
sinônimo de inteligência humana. Cognição, portanto, é a capacidade que
nós, os humanos, temos de nos adaptar a situações as mais diferentes
possíveis. Essa capacidade de adaptação é ímpar no reino animal. Cognição
é o que nos caracteriza e nos torna humanos. É o que faz o homem criar
obras como a “Nona Sinfonia” e “A Divina Comédia”, ou cometer chacinas.
Memória, linguagem, raciocínio lógico-matemático são exemplos de funções
cognitivas, assim como são os aspectos afetivos e emocionais. Atualmente,
não faz sentido a divisão entre razão, emoção e motivação, pois está claro
que para todo fenômeno relacionado ao funcionamento da mente essas
funções se interconectam de maneira intensa.

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